quarta-feira, 12 de maio de 2010

alguém que escrevera...


"Só era 03: e eu não via necessidade de falar a este respeito: 03 de maio.
Não gozei, não houve lágrimas, nem maquilagens para matrimônio, tampouco sextas fálicas: apenas o dia 03 de maio, que brilhava sem prepotência, soprando ao céu seu hálito fresco.Por que divagar sobre o 03 de maio, se não vejo nada de enfático nas cores do calendário? Talvez esta pudesse ser uma resposta.03 de maio é um dia para ser passado, ou um subterfúgio à espera de uma conclusão que ainda não me veio: um fecho para um complexo trabalho de desafio a si próprio. O que, em verdade vos digo, é que hoje não são 03 de maio; que estas palavras não são minhas; que sou o tiro eficaz desta que poderia ser uma poesia. Nunca houve um 3 de maio e meus amigos, a uma hora destas, devem estar a dormir todo o seu sono, debruçando-se por entre as colhas e irrompendo – sobre estas ou entre alguém, pois nunca se sabe! – gritos líquidos de êxtases múltiplos em cada uma de suas camas de solteiro.
Eu sou apenas esta máscara de outro, coberto o meu rosto por uma cortina cinzenta de cigarros.O dia 03 de maio é um dia para se estar inflando balões de ópio e derramando os fluxos de minha consciência parca de 03 de maio. É frio. Está. Passa. Passou-me. E vazia estou sobre um papel inutilizado diante de mais um fracasso meu. São tantos gladiadores ao meu cesto, lutando sempre em favor de minha vazia coordenação, agora obsoleta (saudades do tempo em que vivia da arte e tinha o meu braço esquerdo como mecenas!).Jogo ao cesto o 03 de maio, preparo uma fileira de outros cigarros (alguns nada ortodoxos, confesso) copo de uísque, olho meticulosamente aberto à custa de duas xícaras de café sem açúcar, iniciação de um esforço, suor, receios, tremores... mãos sobre a nívea superfície da folha...

04 de maio, aniversário de alguém tão singela que acabei de conhecer..."

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